

Alemanha anuncia dissolução de organização extremista que criou 'Estado paralelo'
O governo da Alemanha anunciou, nesta terça-feira (13), a proibição do "Reino da Alemanha", uma organização acusada de "atacar a ordem democrática e liberal", em um golpe à ideologia extremista e de conspirações que avança no país.
As autoridades confirmaram operações em sete regiões do país contra o "Reino da Alemanha", anunciou o Ministério do Interior em um comunicado. O grupo tem quase 6.000 integrantes, que "negam a existência da República Federal da Alemanha e rejeitam seu sistema jurídico".
A associação "Reino da Alemanha" está proibida a partir desta terça-feira, já que "seus objetivos e atividades são contrários à legislação penal e à ordem constitucional", explicou o ministério. O comunicado afirma ainda que a proibição também afeta as "numerosas organizações afiliadas a esta associação".
O grupo, que está presente em toda a Alemanha, criou "um 'Estado paralelo' em nosso país desde 2012 e construiu estruturas de crime econômico", afirmou o ministro do Interior, Alexander Dobrindt, em uma coletiva de imprensa.
Classificada como "extremista" pelo ministério, a associação proibida é parte de um movimento de conspiração na Alemanha conhecido pelo nome genérico de "Reichsbürger" ("Cidadãos do Reich").
Os simpatizantes deste fenômeno, quase 23.000 em 2022, segundo o serviço de inteligência interna, rejeitam a legitimidade da República alemã moderna e defendem a vigência do Reich anterior à Primeira Guerra Mundial, em forma de monarquia.
Vários seguidores do movimento chegaram a criar até mesmo seus próprios miniestados.
- "Conspiração antissemita"-
"Reino da Alemanha" foi fundado em 2012 por Peter Fitzek, um ex-professor de karatê que se proclamou rei.
A AFP conseguiu entrevistá-lo no final de 2013, em um conjunto de imóveis reformados que serviam como "palácio".
Fitzek, que criou para seu "reino" leis, uma moeda, uma bandeira e documentos de identidade próprios, explicou na época que havia fundado o Estado para contra-atacar a "manipulação das massas" que, na opinião dele, impera na sociedade alemã.
Peter Fitzek foi detido na operação desta terça-feira, ao lado de outros três fundadores do grupo, que há uma década criaram estruturas e instituições "pseudoestatais", incluindo um sistema bancário e de seguros.
O "Reino da Alemanha" está "se expandindo" há vários anos, afirmou o Ministério do Interior.
Os membros "respaldam sua reivindicação de soberania com histórias de conspiração antissemita, o que é intolerável num Estado de Direito", acrescentou.
O grupo também tem fins lucrativos e, durante anos, desenvolveu atividades bancárias e de seguros ilegais com as suas subestruturas.
O novo governo da Alemanha, liderado pelo conservador Friedrich Merz, enfrenta o avanço das ideologias extremistas de direita.
O partido de extrema direita Alternativa para Alemanha (AfD) é a primeira força de oposição no Bundestag, após obter uma votação recorde nas eleições legislativas de 23 de fevereiro.
Durante o governo anterior de Olaf Scholz, várias organizações deste tipo foram desmanteladas, muitas vezes acompanhadas pela apreensão de armas.
O novo ministro indicou que a operação de terça-feira estava sendo preparada há "vários meses".
G.Gaertner--SbgTB